Análise é de Thiago Dorigos, da unidade de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC). De acordo com sindicato, organização do esquema de criminosos ‘inveja empresários’.
O quadro dramático de roubo de cargas no Estado do Rio, com cerca de um por hora, foi alvo de comparações fortes nesta terça-feira em audiência pública da Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
De acordo com o delegado-substituto da unidade de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), o quadro se assemelha a uma “hemoragia”.
“É um caso de hemorragia. O paciente precisa de uma medida mais dura, mais enérgica. O retorno da Operação Asfixia estancaria. Não resolve, mas estanca”, diz Thiago Dorigos, que sugere também a criação de uma divisão especializada nos moldes da Divisão de Homicídios.
Para o coronel Venâncio Moura, diretor de segurança do Sindicato de Cargas e Logística, a modalidade de crime e sua distribuição “fazem inveja a qualquer empresário”. Julio César Rosa, presidente da Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg), concorda.
“Os caras tem uma ‘rede de distribuição’. São mais organizados do que nós”, ironiza. Dorigos nega que os criminosos tenham “visão empresarial”. Mas reconhece que há uma divisão de trabalho dentro do esquema criminoso. Eles se autodenominam em cargos como “gerência”.
“A especialização do segmento criminoso é uma cópia da estrutura do tráfico de drogas. Tem o pessoal que vai abordar o caminhoneiro, a mão de obra especializada em dirigir, o [criminoso] que corta o sinal GPS do caminhão [para impedir o rastreamento], o que faz o transbordo da carga”, enumera.
O negócio, de acordo com a Polícia Civil, se expandiu de locais como São Gonçalo e Pavuna para áreas como Manguinhos, Maré é Vila Kenedy. “As favelas que não realizam esta modalidade de crime não o fazem somente por conta da geografia”, lamenta.
“A criminalidade percebeu que é um negócio muito mais lucrativo e fácil do que o tráfico de drogas”.
‘Momento complexo’, diz PM
Major da PM, João Filho, reconheceu que a situação é crítica. “Infelizmente vivemos um momento bem complexo. Procuramos nos ajudar porque a criminalidade tem desenvolvido estratégias de ação”, admite.
“Há uma letargia do poder público. O servidor não reconhece mais a autoridade do governador e não tem ânimo para trabalhar, além da falta de pagamento de bônus salarial como o RAS”, opina o deputado Osorio (PSDB).