Futuro Exterminado | #FOGOCRUZADO
No último dia 11, uma sexta-feira, lançamos a plataforma Futuro Exterminado. É um mapa onde você encontra informações sobre todas as 601 crianças e adolescentes baleados na região metropolitana do Rio nos últimos 7 anos.
Foi um trabalho muito difícil de fazer. Primeiro, porque o tema é duro. Depois, porque foi preciso ir fundo nos arquivos e conversas com pessoas para encontrar informações de casos que aconteceram há 5, 6 ou 7 anos.
No entanto, o mais difícil é encarar a realidade. Fizemos uma plataforma com o objetivo de preservar a memória desses jovens baleados, mas os números não param. Corremos para lançar o material na sexta. No sábado, acordamos com a notícia de que uma criança havia sido morta no morro do Dendê, na Ilha do Governador.
Eloáh, uma menina de 5 anos, estava pulando na cama, feliz. Era ‘mêsversário’ da irmã caçula. O tiro veio da rua, disparado, veja só, durante um protesto pela morte de outro jovem, o Wendell, um adolescente de 17 anos.
Imaginamos que o mapa Futuro Exterminado poderia chocar a sociedade, especialmente uma parte dela que não se preocupa, não se envolve e não é afetada pela violência armada nas favelas e periferias. Navegar por um mapa com 600 pontos, um para cada criança ou adolescente, muitos com idade, nome e circunstância do tiro, parece ser o tipo de conteúdo necessário para pensar o futuro da metrópole.
Mas fracassamos na nossa intenção. A realidade no Brasil é muito mais chocante do que qualquer mapa, qualquer texto, qualquer título, qualquer arte. Nem desenhando se explica a violência armada que constitui a tragédia brasileira.
Menos de uma semana depois do lançamento da plataforma, mãe Bernadete, líder quilombola, foi morta dentro de casa em Simões Filho, na Grande Salvador. O laudo mostrou que foram 12 tiros no rosto e 10 no tórax. Em 2017, o filho de Bernadete, Flávio Pacífico, foi morto também dentro do quilombo.
Há casos violentos todos os dias pelo Brasil. Mapeamos a violência armada em 49 municípios e produzimos mais de 40 indicadores. Não é exagero afirmar, com base no que os dados mostram, que o país está armado e que não temos políticas públicas em curso para lidar com isso.
O poder público, pelo contrário, continua preferindo prender e fomentar o confronto armado. No Rio, o governo do estado anunciou que dará R$ 5 mil a cada apreensão de fuzil — armas que deveriam, na verdade, ser apreendidas antes de chegarem ao estado. Na Bahia, o governador Jerônimo Rodrigues acusa sem provas um jornalista de ter recebido uma “encomenda” para veicular a — ótima — reportagem do Profissão Repórter sobre a violência na Bahia. Por lá, em uma semana foram mais de 20 mortos durante operações policiais.
O país está matando seus filhos, suas mães. Quando vamos nos chocar?
Fonte: fogocruzado.org.br