Jorna Nacional – O celular se tornou um dos produtos mais cobiçados por assaltantes. No Rio de Janeiro, a onda de crimes está se espalhando de tal forma que tem bandido deixando o tráfico de drogas para roubar cargas.
Duque de Caxias, Baixada Fluminense, 2h37: uma sombra na madrugada. A câmera do outro lado revela que o homem do fuzil não está sozinho. Só veio abrir o caminho para uma quadrilha que entra num depósito com muita gente, muitas armas, e até caminhões.
Reportagem completa: PLAY
Tudo isso para roubar o que a polícia considera atualmente a mercadoria mais valorizada no mundo do crime: o celular.
“O celular, pelo seu alto valor agregado, e ser objeto pequeno, que ele pode ser transportado com muita facilidade, é o objeto mais visado pelas quadrilhas”, disse Venâncio Moura, diretor de segurança da Sindicarga-RJ.
Os números confirmam. Em abril, o Rio de Janeiro registrou 2.519 roubos de celular, uma média de 84 por dia, um recorde no estado.
O roubo ao depósito supera qualquer estatística. É tanta gente que a ação ganha ares de trapalhada. Os bandidos querem tirar o caminhão para estacionar o deles na entrada do armazém. Depois de dez minutos, desistem. Vão ter que carregar.
Na cabeça, nos ombros, no colo, com uma ajudinha do joelho, nos braços, algumas TVs, mas principalmente celular, celular, celular.
Em busca dele, os bandidos atacam em qualquer lugar. Nas lojas, foram mais de 300 roubos nos últimos três anos. Nas ruas, a estratégia do transporte mudou.
Parece um caminhão comum, mas a cabine é blindada em que a escolta viaja dentro, junto com o motorista. A comunicação com a carroceria permite vigiar a carga o tempo todo. Hoje em dia o celular atrai tanto os bandidos que tem que ser transportado num cofre sobre rodas, vigiado por câmeras.
“Hoje, dois terços do roubo de cargas que ocorre no Rio de Janeiro é perpetrado por traficantes de drogas. Eles perceberam que roubar carga é melhor que traficar drogas”, disse Venâncio Moura.
Num assalto a um caminhão, roubaram o equivalente a R$ 1 milhão. No depósito, foram R$ 9 milhões. Na fuga, os bandidos eram tantos que até tropeçavam uns nos outros.
Sobre a divisão do roubo podem conversar depois. Todos eles devem ter celular.
A Polícia Civil do Rio afirmou que vem investigando os roubos e já identificou vários criminosos que participaram dessas ações. A Polícia Militar declarou que continua atuando na prevenção de crimes com patrulhamento ostensivo, mas alegou que os números da violência refletem um cenário de crise, que não depende apenas da PM para ser revertido.